Artigos

Aldino Muianga, entre nós e com as gentes, por Nazir A. Can

Ambientadas nos subúrbios do período colonial, as narrativas de O Domador de Burros e Outros Contos inserem-se em uma longa tradição literária moçambicana que faz do gênero, o conto, um lugar de permanente reinvenção. A proposta de Aldino Muianga – que inicia seu projeto nos anos 80 – possui, além disso, algumas singularidades. Articulando descrição e reflexão de modo humorado e simultaneamente didático, seus narradores fazem da oralidade menos instrumento que objeto. Com efeito, o registro linguístico do autor, mais próximo do clássico, não prescinde de uma busca pela musicalidade nem de uma pesquisa sobre a energia das tradições nos espaços marginalizados. Essa opção, aliada ao domínio do gênero e à intimidade com as paisagens socioculturais focalizadas, permite a Aldino ...

Prefácio a de terra, vento e fogo, de Lica Sebastião, por Teresa Manjate

de terra, vento e fogo é o novo livro de Lica Sebastião. É o terceiro livro de poesia repleto de imagens fáceis e difíceis, dolorosas e tranquilas, numa luta não só individual, como também na busca de caminhos novos ou renovados de uma nova maneira de escrever e fazer escorrer tinta na poesia moçambicana. É uma responsabilidade fazer o prefácio de um livro com grande qualidade e projecção linguística, mas sobretudo lírica, quanto a esta nova obra de Lica Sebastião, de terra, vento e fogo. Para título ela escolhe três dos quatro elementos da Natureza que os gregos para quem a origem da matéria era atribuída a quatro elementos diferentes: o fogo, a água, a terra e o ar. Ela ...

Os desafios dos EUs em Lica Sebastião, por Teresa Manjate

Não é a primeira vez que converso com a Lica, nesta dimensão: a dimensão da escrita artística, em poesia lírica. Das vezes que tal aconteceu, ficou sempre presente a ideia de uma revelação quase biográfica. Melhor, autobiográfica. A poesia lírica, segundo as teorias, define-se normalmente como aquela que manifesta vocação para exprimir sentimentos, estados de espírito do sujeito na sua “interioridade” e em “profundidade”, e não a de representar o mundo “exterior” e “objectivo” (Carlos Reis, O Conhecimento da Literatura: 1997: 305, Aguiar e Silva, A Teoria da Literatura: 1988: 582). O lirismo confunde-se com a poesia “pessoal” e mesmo “intimista”, e privilegia, assim, a introspecção meditativa. A subjectividade lírica é, por natureza, introvertida e egocêntrica. Talvez esta seja então ...

Lica Sebastião: a musa que não se cala?, por José dos Remédios

Outras margens Sem muitas convicções a este respeito, afinal, cada ser humano é um universo complexo,parece-me que o escritor angolano, Pepetela, tem razão: “toda a mulher gosta de ser a musa de um poeta”, ainda que esse poeta não escreva versos e nem declame poemas líricos ou de qualquer outra espécie. Toda a mulher deve gostar de ser ou parecer aquela entidade angelical que ilumina, por exemplo, a obra de um White e de um Noronha, o monstro do qual nos esquecemos numa atitude quase que herética. Pensando naquela afirmação de Pepetela, li o novo livro da poetisa moçambicana Lica Sebastião, “De terra, vento e fogo”, lançado sob a chancela da Kapulana, uma editora brasileira que se tem esmerado na ...

O cordel a perpetuar o amor de Pedro e Inês, por Flávia Corradin

Francisco Maciel Silveira dá a lume, mais uma vez, um título, veiculado no formato de cordel, ainda dentro dos pressupostos do Projeto Autor por Autor1. Nesta investida, trata da decantada história de amor entre Pedro2 e Inês de Castro3, tema há mais de trezentos anos invadido pela literatura de diferentes países, bem como por outras artes, dentre as quais se destacam a pintura, a escultura, para não falarmos do cinema. O Autor dedica-se ao ensino há mais de quarenta anos, tendo trabalhado no, hoje chamado Ensino Médio, para fincar seus pés no ambiente universitário, dedicando especial atenção à Literatura, o que lhe dá cabedal para dialogar com conteúdo tão celebrado, trazendo-lhe, entretanto, novas achegas no âmbito formal. Estampada numa fôrma ...